quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MORDER É PRECISO!

Não sou nem ateniense, nem grego…
Sou cidadão do mundo!
(Sócrates)

SER CIDADÃO

Já lá vão cerca de 2500 anos depois que Sócrates, (mas o sábio grego) registou pela vez primeira que ser cidadão é saber estar no mundo. Mundo este que no seu tempo era um indecifrável mistério no que respeitava ao planeta Terra e onde hoje vivemos como se todos habitássemos numa aldeia global. Nos nossos dias, tudo interfere em tudo e de tudo damos conta com impressionante realismo mesmo que acontecimentos bizarros possam acontecer na incomensurável distância, entre exóticas gentes, com diferentes crenças e diferentemente civilizadas.
Esta interferência tão rápida e tão sistemática pode confundir a nossa consciência cívica e baralhar o nosso entendimento do que seja “ser cidadão”. Ainda mais, e de forma mais angustiante, quando a cidadania se mascara de violência ou deintolerância, de vigarice institucionalizada e tutelada, a maior vergonha deste sc. XXI…A cidadania inscreve-se num quadro de deveres e de direitos. E nunca há deveres de cidadania sem os respectivos direitos, nem direitos sem os prévios deveres.
Parece, porém, que chegamos ao contrário desta elementar equação: os banqueiros, os ladrões fidalgos, os vigaristas titulados são vampiros que tudo comem e não deixam nada. Depois o governo acorre, pressuroso, a título de salvar a estabilidade, a disponibilizar milhões de milhões para que os predadores das finanças, sejam elas públicas ou privadas, continuem livres, sibaritas e na total impunidade.Todo o cidadão, e os governantes deveriam dar o bom exemplo, deveria perguntar primeiro, a si próprio, o que pode fazer pelo país, pela própria humanidade…Deveria saber primeiro qual é o quadro de deveres perante o próximo, e só depois reivindicar direitos, manifestar os seus interesses e exigir compensações agir profissionalmente.
Entramos, todavia, no tempo safardana, no esquema da golpaça institucional onde vale tudo e tudo tem a bênção da governação.“Ser cidadão” é estar bem informado dos deveres e dos direitos. Quando assim não acontece as pessoas ficam reduzidas à condição de objectos e podem ser escravizadas por uma utopia idiota ou por uma crença imbecil.
A pessoa humana resgata-se sempre pelo saber, pela informação cuidada, pelo conhecimento rigoroso. A ignorância torna as pessoas prisioneiras. E sendo prisioneiras também são irresponsáveis. E porque são irresponsáveis não têm deveres nem podem assumir direitos. São os idiotas da sociedade grega em contraponto com os políticos, que sabem, que decidem e fazem.O exercício da cidadania começa na comunidade, junto dos vizinhos, bem perto do próximo recomendado na Bíblia. Não podemos exercer a cidadania num contexto mundial esquecendo o local. É por isso que é dever do cidadão ser solidário, proteger os bens públicos e privados, embelezar o ambiente, denunciar os vandalismos, a estragação, os atrevimentos e as agressões ao “próximo”.
Os bens públicos são sagrados, tão sagrados que frequentemente, e no quadro duma sociedade marcada pela dominante católica, apostólica e romana, até são benzidos. São ainda sagrados porque foram construidos com dinheiros de todos nós. É por isso que não é aceitável que o cidadão possa assistir com indiferênça aos assaltos, à danificação de cabines telefóninas, à borragem de muros e fachadas. O cidadão, todo o cidadão tem que ser político. E ser político é ser responsável pela sua cidade. A indiferença é o cancro na sociedade actual. Todos temos que ser cidadãos activos, responsáveis e zeladores dos bens que fazem a alegria da comunidade, manifestar a nossa indignação contra a trafulhice, contra a cumplicidade despudorada dos poderes. Seja na minha cidade, seja na sociedade global.
Ancorados na exercício pleno da cidadania, e apesar das ameaças, e das tempestades iminentes, todos poderíamos viver melhor, em 2009.
Basta para tanto que cada um assuma o exercício da cidadania.

Cão Sarnento